segunda-feira, 19 de maio de 2014

“A presença dos Negros no Vale do Taquari” (Parte II)
Taquari é o município mãe do Vale e seus colonizadores foram casais açorianos que tinham em sua cultura e economia o uso do trabalho africano na condição de escravidão. Podemos então afirmar que o nascimento do vale tem no seu DNA o sangue negro, o que pretendo tratar um pouco mais adiante.
A Lei de Terras - Nº 601 de 18 de setembro de 1850 - estimulou os especuladores imobiliários a primeiramente legitimar a posse das terras e posteriormente loteá-las para vendê-las aos imigrantes italianos que era o povo desejado pelos detentores do poder do II Império. Tantos os imigrantes italianos como os alemães que para cá migraram fecharam-se em comunidades como elemento de defesa por estarem distantes de seus países de origem. Esta legitimação segundo José Alfredo Schierholt   
(...) o pretendente ao latifúndio mandava um capataz tropear alguma cabeça de gado, estabelecia alguns ranchos para peões e escravos, comprovava por testemunhos recompensados o uso da terra e, com título legal e com armas, expulsava os posseiros ou os agregava à tropa da peonada. O que imperava por toda a parte era a lei do mais forte. Pelo sistema de apossação formou-se a base do povoamento riograndense.(Schierholt, 1992, p. 22)

A lei de Terras e as leis abolicionistas assim como a maioria das leis de nosso país, tiveram e continuam tendo como plano de fundo a questão econômica, e esta por sua vez, esteve e continua estando alicerçada na divisão de pessoas em camadas sociais entre os “Homo Sapiens e Homo Faber” e, para manutenção da ordem estabelecida à educação se fez reprodutora dos pressupostos organizacionais impostos pela classe dominante.
O loteamento do vale e as mudanças econômicas daquele período fizeram com que muitos negros fugidos ou libertos buscassem abrigos em terras de difícil acesso, assim subiram as margens do Rio Taquari e de seus afluentes em busca destes espaços, o que permite compreender sua presença mesmo que em pequeno número nos mais variados pontos e municípios do vale. 
O Vale não é uma ilha, embora os imigrantes que aqui se instalaram procuraram constituir este imaginário muito em função das condições políticas de quem distante de sua terra natal tem a possibilidade de construir um espaço de segurança para si e para os seus. Foi em função disto que alemães e italianos se fecharam em comunidades (evangélicas e católicas) mais que uma questão religiosa, alicerçava este fechamento comunitário a preocupação em preservar aspectos culturais de cada grupo étnico.


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