“A presença dos Negros no Vale
do Taquari” (Parte IV)
Assim
como em Estrela e Lajeado, sabemos que nas regiões altas do vale os negros
trabalharam informalmente nas colheitas de fumo, erva-mate e outras atividades
agrícolas e de pecuária. Uma destas pessoas faleceu a poucos anos atrás,na Sociedade
Lajeadense Amparo ao Idoso Carente - Vovolar - Lajeado, Angelina Jesus de Borba, uma
mulher negra que carregava na pele os sinais da escravidão, e que segundo
relato de pessoas que a conheceram quando ainda eram crianças em Boqueirão do
Leão, Angelina era franzina mais muito trabalhadora. Ajudava as famílias na
agricultura e nas atividades domésticas em troca por um canto para dormir,
comida e alguns pedaços de fumo para preparar e alimentar o seu vício o
palheiro (cigarro). Especula-se que tenha morrido com aproximadamente 126 anos
e sua existência foi objeto de reportagens do Jornal O Informativo e outros de
circulação estadual.
Antes de continuar
sobre a situação econômica dos negros no Vale do Taquari, devo lembrar o que
nos diz Milton de Almeida Santos no Boletim Gaúcho de Geografia no ano de 1996. “O valor do homem depende do lugar onde ele está!(p.8) (...) O fato de ser visto como negro já é
suficiente para infernizar o portador deste corpo” (p. 10). É nesta perspectiva que encontramos os registros de Erny Stahlscmidt no livro Vagando
pelo Século: crônicas, uma história que narra nesta crônica (Mergulho na Fossa)
a situação de dois negros que eram prestamistas para qualquer serviço e que
invariavelmente já estavam bêbados na metade do dia.
A referida história ocorreu nos idos dos anos
30, de lá para cá muita coisa mudou, entretanto muita coisa continua igual. São
poucos os negros nos dias atuais que conseguem superar as adversidades para
atingir níveis mais elevados de estudos. Boa parte deles precisa trabalhar para
ajudar no orçamento doméstico e estudam a noite quando eles e seus professores
estão estafados de um dia inteiro de outras atividades.
Poucos são os que
vencem estas adversidades pois a escola tradicional os aponta como incapazes de
ascender cultural ou socialmente dadas suas origens. Estou aqui para dizer o
contrário. Tenho convicção que com carinho, estimulo, respeito e reconhecimento
pelas pequenas vitórias estas pessoas negras contribuirão muito mais com o
desenvolvimento de um Vale do Taquari mais pujante para todos nós. Pois existem
exemplos de que isto é possível, por isto aqui estou.
Obrigado!
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